A mureta
Daqui de onde estou sentado, me sinto seguro, conheço o gramado a minha frente, o cheiro que ele faz durante a chuva, as cores dele no outono, como tudo se transforma entre o verão e o inverno. Quase conheço todas as pedras do riacho à frente, e gosto de ver a fluidez como a água corre e divagar sobre a liberdade que deve ser, se deixar levar pelas águas.
Um dia notei que se me levantasse na mureta, poderia ver mais à frente e também mais atrás, caso quisesse me virar, acontece que com o passar dos anos, a vontade de olhar para trás foi diminuindo, e contento-me em olhar para frente, além do riacho; com o passar dos anos também notei que minha visão era capaz de chegar até um pouco além do riacho, enxergava as árvores e a plantação um pouco mais à frente...sentia que se quisesse ficar ali em pé, era como se estivesse no meu território, no meu domínio, se me sentasse era como se fizesse parte de toda aquela paisagem, um dia pensei que poderia até me deitar, esquecer de mim, dormir e me integrar eternamente aquele espaço, como se a paisagem pudesse viver e respirar por mim, foi então que notei que acordei num susto e me sentei novamente, aquilo por um momento pareceu mais um pesadelo.
À medida em que fui crescendo, eu compreendi que me deitar não era de todo mal, que me sentar era natural e me levantar, já não era mais suficiente...então pensei comigo: "posso descer da mureta", apesar que essa era uma ideia pouco provável e por um certo tempo, até angustiante, pois se eu saísse dali, o que seria de mim? Será que encontraria o caminho de volta? Mas pensei bem e disse a mim mesmo: "que bobagem, se posso enxergar até além das árvores, depois do riacho, de lá, certamente enxergarei aqui". E foi pensando assim constantemente que a ideia me pareceu cada vez mais atrativa e tão natural que quando percebi, já havia atravessado o riacho e estava lá do outro lado, olhei para trás, respirei fundo e reconheci de longe, ali era meu lugar, reconheceria aquela mureta de qualquer ângulo que fosse!
Um dia notei que se me levantasse na mureta, poderia ver mais à frente e também mais atrás, caso quisesse me virar, acontece que com o passar dos anos, a vontade de olhar para trás foi diminuindo, e contento-me em olhar para frente, além do riacho; com o passar dos anos também notei que minha visão era capaz de chegar até um pouco além do riacho, enxergava as árvores e a plantação um pouco mais à frente...sentia que se quisesse ficar ali em pé, era como se estivesse no meu território, no meu domínio, se me sentasse era como se fizesse parte de toda aquela paisagem, um dia pensei que poderia até me deitar, esquecer de mim, dormir e me integrar eternamente aquele espaço, como se a paisagem pudesse viver e respirar por mim, foi então que notei que acordei num susto e me sentei novamente, aquilo por um momento pareceu mais um pesadelo.
À medida em que fui crescendo, eu compreendi que me deitar não era de todo mal, que me sentar era natural e me levantar, já não era mais suficiente...então pensei comigo: "posso descer da mureta", apesar que essa era uma ideia pouco provável e por um certo tempo, até angustiante, pois se eu saísse dali, o que seria de mim? Será que encontraria o caminho de volta? Mas pensei bem e disse a mim mesmo: "que bobagem, se posso enxergar até além das árvores, depois do riacho, de lá, certamente enxergarei aqui". E foi pensando assim constantemente que a ideia me pareceu cada vez mais atrativa e tão natural que quando percebi, já havia atravessado o riacho e estava lá do outro lado, olhei para trás, respirei fundo e reconheci de longe, ali era meu lugar, reconheceria aquela mureta de qualquer ângulo que fosse!
Do outro lado, entendi perfeitamente que existe muito mais além do que aquele outro lado, aliás, existem inúmeros lados, infinitos até, alguns eram melhores que os outros, outros realmente péssimos. Conhecendo cada lugar, e cada ponto de vista, eu aprendi e entendi que aonde quer que eu fosse, as coisas fariam sentido como ali na mureta, e conforme fui amadurecendo minhas ideias, fui perdendo o medo de dar passos para frente ou para trás, me aventurei por inúmeras paisagens e entendi que não importava a distância, eu sempre me lembraria da mureta, e eu sempre poderia voltar para aquela mesma mureta, para aquela paisagem conhecida, para aquele ar, aquele barulho das águas e para tudo aquilo que me transformou nesse viajante que sou agora...e ah, eu sabia, aquele era o meu lugar e estaria sempre no meu coração, e quando menos esperava, de vez em quando me pegava sentado de volta a mureta, me sentia seguro, sabia quem eu era, sabia que poderia ir e vir e jamais deixaria de ser eu, eu...eu...meu alicerce, minha força, meus sonhos, minhas vontades, meu olhar....eu...eu era a mureta!
(Eu não precisava de mais nada, bastava ter coragem!)
(Eu não precisava de mais nada, bastava ter coragem!)
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